ANOS DEPOIS, OS DOIS AMIGOS SE REENCONTRAM. A VELHA AMIZADE CONTINUAVA A MESMA, MAS A VIDA FAMILIAR DE CADA UM... QUANTA DIFERENÇA!

 (...) voltaram a ser companheiros do peito. Estavam partilhando interesses e tarefas, embora habitando “repúblicas” separadas. Ele, Joca, possuía teto próprio (...) Morava com o filho, George, de seis anos, e a consorte, Izilda, de vinte e oito. Zé Luís, que, num passado vizinho, residira em casa sua e confortável, regrediu ao regime de aluguel, com agravante de precisar garantir pão, sombra e água fresca para uma prole numerosa e de exigências diversificadas. Numerosa, se considerados o grupo fixo e a turminha flutuante: Dnair, a esposa, o Júnior, filhinho único do casal, duas meninas do primeiro casamento de Dnair, além dos dois rebentos masculinos que ele teve com Do Carmo – a quem denominava “a titular do matrimônio inaugural”. Os dois garotos embora morando com a mãe (à qual coubera o imóvel, no ato de separação) costumavam trazer, em visitas frequentes ao domicílio paterno, o meio-irmão pequerrucho, filho de Do Carmo com seu segundo marido - que Zé Luís, espirituoso, chamava de “o sucessor”. Agregavam-se aos três, quase sempre, dois sapequinhas que o padrasto dos filhos trouxera de uma outra (e fracassada) experiência marital.

 A respeito desse nó familiar, joca, costumava usar um vocativo paulistano, para dirigir uma troça ao amigo:

- E aí, meu, quando se reúnem seu filho caçula, as duas filhas de sua segunda esposa, seus dois filhos do primeiro casamento, o novo filho de sua ex-mulher e os filhos do padrasto de seus filhos, você consegue ter na ponta da língua esse quebra-cabeça?   

-  Sim, este eu já dominei. O perigo está nas probabilidades matemáticas para novos entrelaçamentos.

*Gilson Chagas é escritor e professor universitário em Brasília-DF. Membro da Academia de Letras da Região de Picos - ALERP